Reflexões N(D)este cotidiano
 



Cronicas

Reflexões N(D)este cotidiano

Ana Maria Bettini



Ana Maria Bettini

REFLEXÕES N(D)ESTE COTIDIANO

Nestes dias de ficar mais em casa, tenho reparado nos defeitos dos outros. É feio, eu sei, mas inevitável.
Sabe o jeitinho que a gente dá quando vai de carro em um lugar desconhecido, dá a ré numa rua que não deveria, pois então, eu tenho observado da varanda da minha casa que todos os dias alguém faz isso, tenho até minhas dúvidas se a pessoa não conhece mesmo o bairro, pois acho que se trata de um pai ou mãe que deixa seu filho na escola. Na ida tem criança dentro do automóvel, na volta não mais. Neste caso então, o erro já virou hábito mesmo. Muitas vezes dá certo, mas já aconteceu de vir um carro e quase bater naquele que estava cometendo a infração, (e só para salientar, aqui não é um lugar perigoso dá para fazer o retorno sem medo). Ainda neste quesito infração, quanto à velocidade, tem muita criança que anda de bicicleta, skate e idosos, já vi acidentes e quase acidentes acontecerem, mas os motoristas passam a oitenta por hora numa rua em que deveriam andar a quarenta.
E o retorno então, não sei se vou conseguir explicar, mas é assim: A avenida tem um canteiro central e para sair dela e cruzar a rua do outro lado o motorista deveria pegar a sua direita para continuar na rua desejada, mas não sei que autoescola ele frequentou que dobra fechado no canteiro central saindo na contramão da via que quer entrar e acerta depois a trajetória, se você estiver vindo no sentido contrário corre o risco de bater de frente. Muitas vezes chega no quase, não ocorre de fato o acidente, e eu fico me perguntando: Será que a pessoa que levou aquele sustinho vai se emendar? Talvez sim, mas não sei não.
Assim é com muitas coisas na vida. Sabe aquele doce na geladeira que todo mundo vai comendo até que alguém deixa só um pedacinho na vasilha para não lavar? Entra dentro de casa com os pés molhados sujando tudo e não tira os sapatos cheios de barro. Ou ainda fora de casa, quando saímos na rua com o cachorro e “esquecemos” o saquinho para não recolher as fezes do animal? Ou quando recolhemos e atiramos o saquinho dentro da lixeira do vizinho para que ele recolha depois junto com o lixo dele, não o nosso? E os terrenos baldios cheios de lixo? A prefeitura recolhe e dali uns dois dias está tudo sujo novamente, no calor os mosquitos proliferam à vontade e chegam às nossas casas trazendo doenças.
São tantos jeitinhos malandros nesta vida não? Sempre reclamamos do outro, mas nós mesmos temos o defeito de fábrica em fazer corpo mole e nos desculpar.
Assim é com a máscara no queixo, a saidinha para um lugar que não deveríamos, a conversa sem máscara no portão, a festinha inocente, eu não tomo vacina, e assim vai.
Parece que até agora a humanidade está se safando, graças às pessoas empenhadas em fazer de tudo para ajudar a humanidade a continuar – cientistas, infectologistas, biólogos, médicos, enfermeiros, todos que doam literalmente sua vida para salvar a dos outros.
Os cientistas de toda sorte estudam uma vida inteira as formas de fazer a vida continuar em nosso planeta e vem um infeliz e queima tudo num segundo, simplesmente para botar gado e ganhar dinheiro. Mas quem de nós já plantou uma árvore e acompanhou o seu crescimento. Sim, porque plantar é fácil, quero ver é crescer. Nós não plantamos árvores e reclamamos da falta de água e energia, não separamos o nosso lixo e reclamamos da dengue, não sabemos o que é uma composteira ou temos preguiça de usar, afinal a vida já nos traz tantos afazeres, não é mesmo? Vocês repararam que estou usando a primeira pessoa do plural para falar destes delitos ou ausências de atitude? Não venha me apontar o dedo, sei que tenho meus defeitos e esta crônica já diz, no início, a que veio.
Temos o hábito de dizer que aqui no nosso país é pior, que lá fora as pessoas são mais educadas. Talvez sejam, não tenho certeza, a única coisa que vejo são as passeatas contra a vacina, o uso de máscaras, ou o isolamento social, quando é necessário. E a atitude deles não justifica a nossa e não nos imiscui de sermos protagonistas em fazer o que é direito.
Enquanto isso, novas cepas surgem, o vírus está começando a atingir pessoas mais jovens e até as crianças, e o pior é que este bicho na cabeça de muitos virou coisa política. Que absurdo! Até parece que ele vai bater na porta e perguntar se você é de direita ou esquerda.
Sempre ouço dizer que o mundo vai melhorar depois de tudo isso. Talvez alguns já tenham entendido que estamos no mesmo barco, mas se vamos mudar de direção para não bater de frente com o nosso derradeiro fim, tenho lá as minhas dúvidas. Para que eu ou você possamos nos planejar, a única pergunta que fica mesmo é: Até quando a humanidade aguenta?

 

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